sábado, 26 de dezembro de 2009

Uma Natividade bem, bem diferente

Contrariamente á consoada do passado ano, estivemos no meio do calor humano. Os pequenos, cresceram mais um pouco, e receberam este forte sentimento que tantos devíamos viver no Natal, e nos restantes 365 dias do ano.
A mesa abriu com uma salada de polvo. A janta tradicional, deu lugar a uma receita mais actual, conjugando na mesma o bacalhau, as couves, a broa e o azeite; tudo deliberadamente cozido á parte, sobreposto em camadas num tabuleiro: cebola, broa desmiolada, bacalhau lascado, couve de corte, gema de ovo, especiarias e o casamenteiro dos aromas, o azeite. Apresentou-se um lombo de peru recheado, engalanado com batata entalada e assada. Um vinho ribatejano, que demarca os sabores deliberadamente separados de cada iguaria, com o frutado das especiarias, que adormeciam no palato. Sobremesas várias, de tradição popular, como o arroz doce e sua canela, pudim de pão e ovos, e uma tarte rica de frutos secos, de referência divinal, que nos empurra á toma do encorpado café.
O calor do fogo transbordava para as nossas almas. As crianças inquietantes apressavam a hora da abertura dos presentes. “Não os façamos esperar mais”, … a esposa, feliz por este ano estarmos os quatro reunidos com familiares, e por receber dos filhotes um miminho de aromas; a filhota, expectante e alegre, pelo amontoar de presentes, que por nós bem merecidos, por ter demonstrado um ano de bom trabalho familiar, escolar e comunitário; o pequeno, sempre jovial, curioso e eufórico, com a avalanche de carros, Lego´s, comboios, roupas, jogos, … enfim, “a pura da loucura”, não sabendo bem para onde se virar, nem se lembrando sequer de em tão pouco tempo, receber tantos presentes num só dia; … eu, agradecido pelo momento único, chorava de felicidade por dentro, … todos propagavam aquele sentimento natalício inexplicável, notava-se no olhar vidrado de cada um, pela alegria de estarmos juntos, vermos as crianças em delírio e agradecer os presentes e lembranças.
A filhota canta-nos uma música de Natal, … e que belo canto, … estou perplexo, … é Natal.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Tainadas

Aprendi com um colega meu do norte, uma palavra forte, que engloba um forte senso de amizade, temperado com um bom jantar, acalmado por uma provável noite de farra: tainada.
Da época festiva que se vive, vamos celebrando de um modo ou de outro, por aqui e por ali, em grupos de amigos e colegas, festas e jantares de Natal.
Comecemos pelo Jantar da Crisform: após a sugestão esplendorosa de um dos formados, de nos voltarmos a encontrar, depois de todo este período de silêncio, e afastamento, juntamo-nos no “Cardápio do Visconde”, em Marrazes, para voltar a pôr em dia a nossa vida desde então. Pouco a acrescentar, a não ser mais algumas formações conseguidas, e o desejo de alcance de outras. No final, ao café, um amigo que se junta a nós: o formador. O reencontro com alguns poucos amigos, … na próxima tentaremos mais, senão todo o grupo. A ver vamos.
O Jantar de Turma, da minha esposa, é daqueles jantares mediáticos anuais, que tem marcação obrigatória, superando agendamentos de vida social inadiáveis; já lá vão 15 anos de jantares, sempre com as mesmas caras e mais algumas novas, que entram para o grupo, que recebemos alegremente, como namorados, nubentes ou esposos. A concentração realiza-se como sempre no “Restaurante Paris”, em Meirinhas, que patrocina este convívio, com um digestivo ao final do repasto. A noite continua por uma visita ao “Estrela Azul”, que este ano, por unanimidade, decidimos não chagar; “Amazónia Bar”, e finaliza no vizinho “Palace Kiay”, até ao luzir do dia… por vezes até há tempo para pequeno-almoço, no “S. João”.
Jantar de Raclete; não há qualquer alusão a equipamento desportivo de provas de ténis, ping-pong ou badmington, simplesmente ao tradicional prato de origem francófona, ou alpino. Um prato, que para além de apreciar muito pela sua confecção, remete-nos ao convívio relaxado na companhia dos nosso amigos: o factor tempo não tem peso nesta refeição: enquanto o queijo derrete e se embrenha na carne, enchidos, legumes e batata, falamos, rimos, fraternizamos, bebericamos novos vinhos e degustamos, … uma boa refeição tranquilizante.
Jantar de Empresa, o juntar de todos os funcionários das empresas, para convivermos longe das questões produtivas e laborais. Um bom momento de nos conhecermos melhor no companheirismo de colegas de trabalho.
Jantar de Couves de Corte; ultima aposta em jantaradas, que irá ramificar para jantar de Grelos com Arroz. As famosas couves de corte, que alguns de nós bem conhece, cozidas em água e sal, acamadas sobre miolo de broa, com um ovo escalfado “a cavalo”, e um bom fio de azeite; ainda se pode acompanhar com massa grossa e azeitonas. Um vinho alentejano, para suavizar, e para nos remeter a uma época antiga, de um prato caseiro simples. Alguns colegas, ao início, estavam cépticos, mas aceitaram o desafio da prova…, e ainda bem para eles, senão mais sobrava para quem gosta desta pitéu.Nisto tudo, e num breve sumário, confraternizamos as amizades que continuam e perduram, … bons momentos, e até á próxima tainada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Panóplia do Natal

O espírito já anda solto no ar, á quase um mês, graças aos média; e este ano, como todos os anos, o mesmo ritual: o edificar do pinheiro de Natal. Edificar, porque é uma autêntica montagem á destreza e mestria humana, de uma obra de arte que puxa os galões á engenharia, design e arquitectura.
Emproei a epopeia de visitar o sótão, em busca do pinheiro, bolas, luzes e enfeites, em demanda da época natalícia. Sacudi o pó de um ano, que repousava a um canto desta arrecadação esquecida. Desempacotado, … e peças, mais que muitas, o aroma do Natal, inebriou-nos com a sua magia: o pequeno, saltava de contentamento, pela novidade mas sem saber bem do que se tratava; a filhota só clamava: “Na-ta-l! Na-ta-l!”, ajudando rapidamente a esvaziar todas as caixas repletas de artefactos natalícios. Lá começámos nós, peça atrás de peça, ramo por cima de ramo, até perfazer o cone verde natalício. Agora, olhando ao que tínhamos, como prata da casa dentro da caixa das bolas, pinhas e gotas, vamos dar azo ás tendências da moda para este ano: ora, … bolas vermelhas, azuis, douradas, castanhas e laranjas; pinhas e gotas castanhas com pó dourado, … humm! É melhor ver o que há de fitas: vermelhas, douradas, brancas e prateadas, … um verdadeiro impasse. Para este ano, vamos colocar só bolas, gotas e uns pequenos bonecos talhados em madeira, representativos da época; e assim, pensamos ter acompanhado o in fashion deste ano. Fio de luzes psicadélicas colocadas, e teste do liga-apaga da luz do tecto, efectuados pelo pequeno, com sucesso, … tudo aprovado: a época natalícia está aberta.
“… e o Presépio?” pergunta a filhota. “Está ali, … guardado!” comentei. Faltava o Presépio, na realidade, … o marco mais representativo do Natal. Abri a caixa, limpei-o e coloquei-o bem á vista de todos, sobre o móvel, junto a uma vela da “Caritas”, para acender na noite de Natal. “Oh pai! Eu e a avó, encontramos musgo, perto dum pinhal da Serrada!” O famoso musgo, que acamava de verde, o Presépio, dando a ideia duma pastorícia verdejante onde as ovelhas pastores, Reis Magos, casinhas e fontanários, aguardavam a chegada do menino Jesus. Noutros tempos, juntávamo-nos em grupos de quatro ou cinco gaiatos, de modo a escolher e apanharmos, a melhor e maior quantidade possível de musgo. No caminho ainda trazíamos um pequeno pinheiro ao ombro, ainda a salivar resina, para enfeitar. Agora tudo é de Polipropileno, e resina. Já não há o ar natural e ambiental, do cheiro a verde, e da imperfeição da argila moldada á mão. “Tem a ver com o aspecto ecológico do Natal.” Talvez, … mas a memória é por vezes mais saudosa dos bons momentos de infância do verde e do trabalho da montagem da panóplia natalícia, do que um pinheiro tipo guarda-chuva, e um presépio já moldado e colado a uma base de cortiça, que os meus herdeiros irão relembrar para xis mil anos. O que interessa é o espírito da verdadeira mensagem natalícia…, já dizia Charles Dickens.
Um bem haja e feliz Natal…

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sopa da Festa

…” Já têm janta para logo?” disse-me a colega. “É que tenho a sopa, para nós jantarmos.”
Ai a sopa, … é daqueles manjares, em que á moda antiga, nos debruçamos sobre um tacho de terracota, onde repousa um forte repasto para estas alturas do ano.
“Claro que vamos, …” confirmei prontamente, … “o que é necessário levar? Uma pinga, um doce,…?” questionámos… “Nada! Somente um grande apetite, e a vossa companhia:” responderam. E que grande apetite é necessário para esta sopa. Mas nada que não se supere com um pequeno esforço de lambarice, ou gula.
À hora marcada, aparecemos; e finalmente assisti a confecção de tão grandioso repasto.
O segredo secular, que se esconde nas penumbras de uma aldeia de Poiares, ia finalmente ser desvendado, ou não. O tacho repousava borbulhando, a “Chanfana” caseira. Ao lado, retalhava-se pão seco, … outro tacho cozia couve lombarda, cenoura e batata silenciosamente. Aguardava o desfecho da iguaria… o tempo escasseava, e a fome ajudava, … o aroma prevalecia na cozinha, empurrando-me para a dita aldeia, onde uma senhora, prepara uma rica “Chanfana”, misturando a carne da cabra do pasto, com um vinho frutado das encostas do Mondego, o alho, e os segredos de uma vida, …
O pão, era agora acamado sobre a carne e parte do molho, com uma camada de batata, cenoura e couve, … depois novas camadas até gastar todos os ingredientes. Ai que finalizar com uma nova passagem pelo lume, para tudo ganhar o mesmo sabor…
O vinho que repousava na garrafa, corria agora para os nosso copos, preparando-nos para usufruirmos desta Sopa da Festa… pena que um dos amigos estivesse de serviço, porque é mais um dos grandes apreciadores desta iguaria.
A Sopa da Festa, segundo sabemos que nos foi contado, acaba por ser um requentado de uma “Chanfana”; ou seja,... isto em trocos com moedas de 1 cêntimo, após uma “Chanfanada” valente, sobra sempre molho e pequenas quantidades de carne, e nos tempos da outra senhora, a vida não estava para a estragação; os ingredientes mais correntes e básicos do quintal, sempre á mão; e as sobras do pão, proporcionavam a criação de mais uma refeição rica e participativa.
Deixando a modéstia de lado, um pitéu.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Druida da casa…

As maleitas da época, começam a tocar numa ponta sensível do lar: os miúdos. Mais frágeis, débeis, e expostos á intempérie, reflectem nos atchins, e nos suspiros, que algo vai mal… Termómetro nos sovacos, pijamas quentinhos, fogueira no máximo, cobertores entalados e as mezinhas á espera, para serem desvendadas junto ao caldeirão das poções. Qual druida, peguei numa mão cheia de plantas, de alto teor medicinal, separei-as, misturei-as, cozinhei-as, e expus separadamente por cada quarto, numa taça fumegante, afim de iniciar a profilaxia de determinadas influenzas. “Folhas de Eucalyptus, com folha de Aloe barbadensis, cozidas, e deixar as pessoas cheirarem esse vapor” disse-me a mãe… O aroma a eucalipto, sentia-se pela casa. Penso que deu algum resultado… os narizes deixaram de pingar, e sufrinhar. Ai que adicionar, como complemento, antes da caminha, o xarope de Daucus carota e Brassica rapa (ambos fatiados) a macerar com duas colheres de Mel. Logo há mais, … para poções mágicas (ou não) do druida da casa.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O grande pequeno

Neste Domingo, numa daquelas brincadeiras, digo eu pedagógicas, com o piqueno, simulava eu uma tristeza, chorando como se não houvesse amanhã, deitado sobre o tapete, por vê-lo a usufruir do colinho da mãe; ... eis senão, … que arranca comovido do quente colo materno, e se debruça para mim, dando um miminho com a calma duma brisa, sobre o rosto: “ Paiii! Nã choles!...” acompanhado de um confiante sorriso, e de um forte abraço.
A existência e o universo pararam para mim, neste momento. Abracei-o calmamente surpreendido, porque o momento podia fugir… fechei os olhos, e senti o calor do verdadeiro amor... manteve-se abraçado por um longo período…
Não há momento igual…

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Um texto perdido...

O cajado pintado ás cores do sol, do tempo e do sebo, mexia na mão do avô; por entre pó de terra revolvida, cheiros de sulco da terra rasgada, fúria do suor da canga das vacas, em revoltadas sincopas de esforço dos animais que puxam as meias solas, e faz deslizar a grade. Eu aproveitava a boleia do assobio, e ouvia as ordens de quem manda na parelha: “Arhhhh! Cabana, castanha, amarela! Raios te partam mais ao dono…! Anda que já temos a sossega á sombra!” e o agitar da grade do esticão do gado, descobria em cada rasgo, cabeças de luzerna, que pescava, para assar á noite no brazido. “ Já tenho cinco no meu bolso!” O sol ardia, e o surro escorria pela face, braços e pernas, vincando as rugas. Virava a grade perto do cômaro, para não estragar o vizinho, calcando um dos lados da grade e batendo na Amarela para ela dar sinal a Castanha: “ Oooooh! Pára, que o dono tem que molhar a pragana! “ a garrafa com uma colheita do ano anterior, permanecia escondida no meio da erva, á fresca sombra. Puxava dois golos, com satisfação de ter morto a sede…, a parelha ofegante, permanecia, fiel ao barbilho e ao cajado, chicoteando unicamente o rabo para afastar as moscas e moscardos.
“ Heiche! Que se faz tarde, e o dia tá curto” calcavam á ordem, mais uma leiva de terra. A mãe, já puxava do avental, punhados de sementes que tentava espalhar o mais longe possível. Alguns passaritos destemidos, tentavam a sorte, roubando algumas sementes ainda descobertas. A merenda esperava por nós, debaixo da grande Oliveira, sobre a manta de retalhos estendida, num grande cesto de vime, que esconde um repasto: bacalhau assado, nadando na fartura do azeite, por entre o aroma de dentes de alho picado; ou galo guizado, numa rica tomatada de cebola, e colorau; broa quente para molhar, vinho e laranjas, para satisfazer a sede da sesta. Juntamo-nos; falamos da terra, das colheitas, das desavenças, … e sobretudo da vida.
“Vamos; que ainda temos meio-dia de laboeira pela frente!” levantava-se o avô, encaminhando-se ao gado e acarinhando a goela das vacas, que comiam o resto duma caroça de crutos…
A grade retomava o seu curso… já besuntado do azeite e o resto da côdea de broa na mão, saltava para a grade, ao som do compassado andar do gado… Á noite, por entre as pernas da panela de ferro, puxa-se umas brasas, e assa-se as cabeças de luzerna, … a semeadura repousa, … o Outono já se apressa para a colheita

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Não dói nada…

Após anos de adiamento, a coragem e o empreendimento, sobrepõem-se. Que se dane e lixe… não deve doer.
Começamos há um ano, mais troco menos troco, com todo o processo de ingresso na futura vida académica. “… mas, … já viste a nossa vida! Todas as alterações que iremos dar ao casal e á família?” ponderou, enquanto preenchíamos um dos primeiros e longos impressos burocráticos, para possivelmente entrar num curso superior. Gesticulei o meu horário semanal; “… aperto o trabalho aqui, a lida da casa ali, e resta todo este tempo para os miúdos, nós e amigos… eu agarro o desafio. Serão 3 ou 4 anos. Não dói nada… Tu preocupa-te unicamente com o estudo!” ordenei, apoiando-a a não sucumbir perante uma dúvida, que poderia desmoronar, com este seu objectivo futuro.
O ano passou; ela ingressou; e como previsto, a rotina alterou… recordei ás uns dias, uma das várias histórias do meu pai, enquanto emigrante: “… dormia-mos (4 ou 5 homens) num apartamento, com uma cozinha, um quarto e uma sanita; enquanto um cozinhava numa placa eléctrica, outro lavava a sua roupa, outro tomava um banho de balde, outro ajeitava a casa, e outro ia ao marché ; a coisa andava, e toda a gente sobreviveu para estar aqui, … e mais, os tempos eram outros.”, tem toda a razão. Quem assim viveu uma série de anos, conta estas histórias, e ouve um filho a dizer que tem de fazer alguns sacrifícios, em prol de uma futura estabilidade profissional, económica e social, ainda acha piada aos meus argumentos.
O ambiente estudantil sente-se por toda a casa; livros de Direito, marcadores, Constituição, pen, apontamentos, garrafa de água, lápis, caneca de um chá, mesmo ao lado do laptop; a flauta, sebenta, caderno pautado, aparas de lápis, o Magalhães; livro dos animais 0-2 anos, o Noddy, caixa com formas, carros e Lego´s; … o homem é realmente um animal de hábitos; adapta-se a cada nova situação… organizo-me agora de maneira diferente: ir buscar os miúdos; banhoca; ver TPC´s; aquecer jantar (previamente confeccionado na noite anterior); jantar; falar com a filhota sobre o dia; descobertas do piqueno; uma ou outra brincadeira; tratar da cozinha; tratar da roupa suja e da roupa deles para manhã seguinte; leitinho; dentes; e deitar; … ufa! Amanhã á mais…

domingo, 13 de setembro de 2009

O dia dos anos diferente

Os dois, mantinham o sorriso ligeiro e despercebido, naquele sofá que os aconchegava no reflexo projectado da única luz que invadia a sala na sua hora de descanso, .... o dia tinha sido diferente...
"Olha preciso ..." arquitectava eu um dia diferente, sem hipótese de ser desmantelado , o que era usual antes do tempo, com amigos. Todos corroboraram, neste plano; ninguém diria nada até ao dia, hora e local marcado, nem uma chamadita, nem sms, nem ... nada. O plano ganhou pernas, entre desconfianças, postas de pescada, e tentativas de rasteiras... um autentico maremoto de adversidades, mas singrou. Amigos penosos, quase condescendentes, ... mas mantiveram a sua postura planificada. Amigos das noites, amigos das festas, amigos da escola, e amigos, todos compareceram ao pedido, mesmo entre outros compromissos já agendados, ...
Ao dia, hora e local marcado, a surpresa do juntar dos amigos, e aquela bela prenda, envolta num papel de tom carinhoso, com uma fita de amor, e um belo laço sorridente que ela não contava abrir: a amizade.
No meio do entoar dos parabéns, o premiar os amigos com um bolo, ... e um abraço de obrigado pelo momento eterno que vai perdurar...
"Pai! Uma flor, uma beijoca, e um bolo!" impacientemente me segredava a filhota, á presença da mãe. "Uma rosa pérola..." pedia á florista "... com brilhantes nas pétalas, pai! Não te esqueças!" ordenava a filhota. Entregou-a com um sorriso, satisfeita de ser a mais bela e sincera prenda de sempre que dava, no meio de um abraço calorosamente carinhoso, de uma mãe feliz por este minuto de tempo... o piqueno junta o seu abraço, ...
O momento prevalece ... reflecte-se agora a esta hora, acompanhando no sofá com um braço por cima, o filhote que sonha e descansa, por este dia ter sido só da mãe.
... "parabéns, " ... segredei-lhe com um beijo no ouvido... sorriu.

sábado, 5 de setembro de 2009

11+7

… Beijou-me os lábios, num tom terno …” Parabéns”, sussurrou; … era o dia.
“Mais quatro, e temos bodas de Diamante!”, dizia a florista rindo, atando vigorosamente com ráfia, uma folha de papel-tecido rosada, que adormecia três rosas brancas… de entre uma prateleira de odores e elixires, sobressai um aroma frutado, levemente adocicado, guardado numa pequena pêra de cristal lilás. È o aroma certo, na embalagem correcta… “Levo este!” apontei, pensando na reacção dos filhotes ao entregar o elixir á sua mãe…
Há onze anos que casámos na Igreja, com tudo a que tínhamos direito, na altura. E tanta água já passou por debaixo da ponte, nas calhas, nos passeios, nos telhados e até nas calçadas, desde então. Momentos altos, baixos, bons, maus e comme ci comme ça (como diz o francês em França, ou noutro sítio qualquer). Tudo superado, e ultrapassado… adiante.
Parabéns pelos 11, mais os 7 que vêm de trás (pareço a professora Júlia), e subtrai, nestes anos todos, qualquer coisinha que tenha sido esquecido, ou dividido por um momento de nervosismo; espero multiplicar estes bons anos de cumplicidade, de modo a igualar, o que sentimos um pelo outro. Um bem-haja para ti…
É de lembrar, porque é importante, o mano faz anos… e espero que continues como és… Um forte abraço, tirano…

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Acabou? Ainda não? ...

O mês de Agosto, ... o pico do ano ...
... sol, calor, refrescos, mines, praia, bronze, gelados, saladas, piqueniques, férias, festas, t-shirts, calções, biquinis, chinelos, matraquilhos, sorna, sestas, noitadas, bandas, concertos, caipirinhas. esplanadas, ..., chuva, frio, melgas, moscas, filas, trânsito, emigrantes, suor, confusão, ruído, ressacas, areia, gripes, fast-food, ...
Ufa!... finalmente está quase a terminar o mês de tanta emoção. Ainda não acabou? Ainda há mais?
No entanto tenho que pensar positivamente, num regresso á normalidade; estes picos do ano, são do melhor, mesmo que o coiro e a ialma, sintam na pele. Abrasa-me todo! Tenho que voltar a estagiar no gymnasium, e num ou outro liber, para repor a forma: mens sana in corpore sano.
Mas o pico do ano, definitivamente, começa a pousar de novo; a euforia do mês está a passar e a decrescer; já se sente o cheiro do vinho novo, da escola, do calor da lareira, das noitadas com os amigos de sempre, ... Ainda um dia destes comentava, o quão engraçado era o mês do pico do ano: de repente o mês tornava-nos distantes das amizades de sempre, como se perdêssemos o contacto visual de tudo e todos: ..." É a época das férias; de receber as famílias e os amigos de longe; da nossa folia aproveitar o calor da vida; um pico de carpe diem "... disse-me um viagante. Vem aí o reencontro, ...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Resumo de féria(nte)

Chegou o dia, tão aguardado… o sornar, o levantar tarde, o nada fazer, o lagartar, o descansar, … 10 dias úteis de férias.
“Às 8:00 horas da manhã em minha casa! Carregar ferramenta! Depois passamos ao Norte para uma cafézada, e …” disse-me o pai, no dia anterior. O trabalho prometia ser breve: refazer pela trigésima vez, o relvado do jardim; … “ parece a casa de um emigrante.” Que gavão que levei! A justificação do não ter tempo, não se enquadrava neste momento.
Ordem de trabalhos: estonar todo o jardim, para erradicar as hastes e caules das ervas daninhas, de modo a trabalharmos mais facilmente; cavar todo o jardim, com enxada de pontas, numa terra rija que parecia pedra; gadanhar todo o jardim, para retirar raízes e pedras; roubar hastes de escalrracho, para plantar; e regar abundantemente o jardim, a ialma (com mines) e o coiro (com suor e calor á brava). O jardim outrora, selvático e intransponível, dava agora lugar a uma belíssima paisagem de arquitectura floral, que faz frente ao próprio jardim de Versailles, quiçá. Tempo orçamentado para a tarefa: 2 dias; tempo gasto: 6 dias; receita: perdi 4 dias de sorna, … no entremeio de tal façanha, ainda deu para algumas bricolages, como reparação de pavimentos e calçadas, troca de algumas lâmpadas, aperto de parafusos e lubrificação de portas, lavar e arrancar ervas daninhas das calçadas, e … limpezas. Sim! Limpezas. Um dia para a limpeza geral de casa: aspirar, quartos a assoalhar, limpar o pó dos móveis, sacudir tapetes, lavar chão com esfregona, …,
Nisto tudo sobram 3 dias para descansar. Tiro um dia para praiar com os miúdos; tarefa um tanto ou quanto penosa e tonificante, com a catrefada de tralha que se acarreta para a praia, para o proveito que se vai ter… saco de toalhas, saco de brinquedos, geleira do lanche, chapéu de sol, guarda-vento, sítio para estacionar, sitio na praia, calor, confusão, … uiiiiiii, mas um momento familiar gratificante.
Sobraram dois dias para o descanso, e borga, que soube a nozes e a piscina do vizinho; deu para torrar ainda de um lado e do outro o coirato; jantar com amigos e irmos a uma festa de lavagem geral, que acabou por ser substituída, á ultima da hora, por um banho ao Oceano´s (bar). Saldo destas férias: 10 dias úteis de férias; 6 dias de jardinagem; 1 dia de limpezas; 1 dia de praia; 2 dias de sorna; férias bem produtivas; concretização de algumas tarefas, … conclusão: quando chegam as próximas férias? AAAAAAhhhhhhhhhhhhh!

domingo, 26 de julho de 2009

Agroal e Buraka para um só dia...

Quando os tios da França vêm, esperamos sempre duas ou três coisas: bombons, jouets e umas idas á praia ou á famosa nascente de águas frias, eventualmente termais, ou quiçá de propriedades curativas, conhecido por Agroal. Uma nascente que enclausurada entre tábuas e rochas, fruto da engenharia humana, recria um presa, piscina natural, sempre corrente e fria….
Já lá vão cerca de 20 e tantos anos, que me perdi por aqueles cantos; e hoje com os filhotes, esposa e amigos, seguimos para esta estância balnear. Filas intermináveis de viaturas estacionadas sobre as bermas que não existem; pessoas carregadas com os seus sacos , toalhas , calções, chinelos, chapéus, que se encaminham loucamente como formigas para a nascente, para o melhor lugar da plateia; o calor junta-se, á fresquidão do leito do rio, que canta entre rochas e cumeadas serranas; abancamos na margem totalmente arquitectada, sobre um cais de madeira castanha, com vista para a represa, agora totalmente refeita em betão; sente-se uma chuva de salpicos frios, dos saltos acrobáticos da mocidade que tenta provar o seu vigor juvenil. Desço os degraus até á nascente, que eu já sou jovem; … entro na água, … que é fria como o raio, … está no ponto; … salto… (…) a visibilidade é total, e os olhos não se queixam como nas piscinas artificiais, … mergulho, explorando o leito da represa, tocando na areia e nas rochas, … os filhotes e amigos juntam-se á brincadeira…
Após todos estes anos, a água continua como sempre: no ponto, fria a puxar para gelada.
A família adorou o momento; a filhota desejava permanecer para sempre naquele lugar, … mas o dia arrefece, e a volta teima em ser demorada.
Nota importante a levar em conta para a próxima incursão: aguardar pacientemente por um lugar para estacionar, de modo a evitar uma infracção e á posteriori uma coima, é que a Guarda Nacional, aproveita-se dos momentos de descanso e prazer para nos escrever algumas cartas a cobrar soldo, por estacionamento indevido sobre a berma; eu e outras dezenas como eu.
Fechamos o dia com uma ida ao Bodo; uma festa tradicional da Sicó. Uma banda dos lados da Buraka com o seu Sistema de Som. Muito bom!

sábado, 25 de julho de 2009

Cerastoderma edule

À três quinze dias atrás, entre risos de esplanada e algumas mines, surgiu o tema, …”nunca apanhaste Cerastoderma edule?” . Fiquei logo desiludido comigo mesmo, por não ter ainda, no meu reportório de vivências tal façanha. “A baixa-mar dá-se por volta das 13 horas.” Prontifiquei-me em registar no meu PDA, para não haver qualquer hipótese de esquecimento, e confirmei...
O sms entoou no seu tom de aviso: “às 13h em frente á …”, aprecei-me a preparar o equipamento: calções, chinelos, toalha, geleira e ancinho; dirigi-me ao sítio e hora combinado. A trupe reunida: seguimos para a nossa demanda.
“Está a encher! È melhor despachar senão já não voltam “ dizia um pescador no seu tom observador, que fumava um resto da sua beata. O calor empinava sobre nós; o curso de água iniciava a sua preia-mar; o tempo esgotava; atravessamos o leito do rio entre braçadas e pegadas. Os bancos de areia, ainda demonstravam ser ilhas com um extenso areal, espalhadas pelo leito do rio, povoados de estáticas observadoras gaivotas, e ainda uma dezena de gente que cavava a areia em busca de divino petisco.
Iniciamos a nossa tarefa; ás mãos cheias, cavadela aqui, cavadela ali, e lá surgia entre os dedos o fruto da procura. Saltávamos de um lado para o outro, revirando o areal, que de repente mudara de configuração: começava a encurtar, e a nossa passagem anterior aumentara para o dobro. Cada balde, continha cerca de um quilo, ou talvez mais algumas gramas; dois amigos bradavam para se despacharmos, porque o areal começava a ser devorado repentinamente pela água do mar; vedei o balde, avisei os outros amigos que permaneciam absorvidos na sua epopeia, … “Venham depressa, que a maré está a subir depressa!” … onde subira para o areal, passava agora a força do mar… realmente, onde me fora meter, … não deixei fugir a vontade, … observei as gaivotas que começavam, agora a debicar a areia, … olhei para o curso da água e para a margem oposta, onde os dois amigos já repousavam em segurança, … “está muito forte!” gritavam no meio do cansaço das braçadas, … olhei de novo para trás, e eles permaneciam absortos na procura, qual febre do ouro; … lancei um assobio, e gesticulei o braço, em sinal de saírem rapidamente; … o extenso areal dividia-se agora em duas pequenas ilhotas; … entrei no curso da água, indo contra a força da água, e saltei com a vontade, e com o balde do que conseguira apanhar, … a água empurrava-me contra o meu objectivo; … ao atravessar o curso mais forte, utilizo o balde como guia, e tento flutuar, deixando-me ir um pouco na força, para depois no fraquejar do curso dar uma ou duas braçadas e conseguir libertar-me finalmente, desta via rápida de água salgada; … sinto a divisão da água: fria do rio que me toca nos pés, quente á tona, que entra do mar e, me bate no peito; … imagino-me qual poeta, tentando salvar o seu manuscrito, no meio do Oceano Indico, jogando o precioso balde a salvo para a margem; … o cansaço tenta chamar o pânico, mas os pés pisam chão firme; … estou safo. Atrás de mim, alguém tentou a sorte de atravessar o rio ainda mais forte; teve que ser salvo por um dos amigos que já se encontravam na margem.
Os dois amigos que ficaram, correm ainda para a margem de onde parti, que já submergiu. A ilhota vai desaparecendo; ao longe um barco oferece boleia; … estão safos.
Após tamanha prova de esforço, a mine vinha mesmo a calhar; mas existe um senão: a chave do carro, está com os amigos que ainda vem á boleia no barco de um pescador a remos …
Chegam finalmente, passado uma hora e meia; que securas. Ainda temos algum tempo, vamos descansar ao Cabedelo: segundo parece um pequeno paraíso para surfistas; fiquei vidrado pelo aglomerado e densidade de surfers por m3 de água. Nunca fui ao Hawaii, mas sinto-me espiritualmente cool, flat, na crista da onda e por vezes fazendo o tubo.
A noite inicia o seu regresso; vamos petiscar, o fruto do nosso trabalho, a casa de um dos amigos. Divinal e brutal; até sabem melhor.
Grande berbigão á bolhão pato…

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Coco-locco vs. mine

O tempo não está com nada…
Ora chove, ora um calor de rachar, … diz que é do aquecimento global, ou da revolução industrial. Espero bem que um deles se resolva e se responsabilize, porque arcar com o calor tropical no dia-a-dia, remete-me até aquele ponto do globo, onde um copo de coco-locco na mão, e o coiro na piscina, se torna imprescindível. No entanto, como sou mais moderado e pouco exigente, contento-me com o produto nacional: a mine, ou a Imperial. Refresca a ialma, dá a sensação de frescura ao corpinho Danone (pub), e acima de tudo poupo uns tostões na deslocação ás Caraíbas, para entornar o dito copo de aroma a leite de coco, pela goela abaixo. A incerteza ocupa-me as manhãs com questões irrelevantes para o decorrer do dia: “O que vou vestir hoje? As galochas ou as sandálias; o oleado ou a camisa havaiana?”
Deixai-me consultar o forecast, ou o boletim meteorológico, (…)
Penso que o Equador subiu um pouco na linha do hemisfério norte…
… “O calor abrasador mantém; a humidade relativa está a subir; a precipitação dia sim, dia talvez;” …Tarefa a ser cumprida com a maior das brevidades: repor o stock, abastecendo o frigorífico com chás gaseificados de cevada e lupo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O piqueno faz anos...

Doid´ano”… disse emproando dois dedos corajosos, desemparceirados e surrentos.
Olhava, calmo, para todos os que estavam na sala. Familiares, amigos, todos juntos para festejar com o piqueno
Um flash, empurrou-me para dois anos antes; numa sala de dilatação, a cavaqueira, rondava umas prováveis férias ás Caraíbas, talvez. Dois amigos enfermeiros, acompanhavam-nos, na solidão da espera… a hora interminável, demorava a passar, …
Ela controlava momentaneamente, as dores da dilatação que iam e vinham progressiva e ritmicamente, … as enfermeiras e parteira, iam e vinham, consultando registos silenciosos. Neste parto, todos os momentos estavam controlados, desde a respiração, ao controlo da dor, até ao focar da força; desta vez decidimos investir numas aulas de preparação para o parto, de modo que entre ambos compreendêssemos, o que estávamos a fazer e sentir.
Na sopra da vela, o escuro atormenta-o, “paiiii!”, corre para o meu colo; levo-o agora confiante, para encher os pulmões e soprar a velita; a irmã ajuda de bom grado…
Depois da epidoral, as dores vão desvanecendo; o aparato agora é maior;… entra o médico de serviço, que brada calçando uma luva, apalpando genitalmente o útero, “o pediatra de serviço, bloco operatório em stand by, a enfermeira …” chegou a hora; o piqueno vai sair… mas algo se passa. Os médicos cochicham entre si. Um dos amigos enfermeiros, tenta descortinar algo entre rumores. O piqueno, com o cotovelo faz pressão contra o cordão umbilical, nesta descida da fase final. Mais uma mexida; … o tempo não passa…
Corre á volta da mesa junto dos amigos, na sua nova prenda: uma “biqueta”. Ri, galhofando das partidas da irmã, … foge, soando de cansaço…
“Tesouras, … pinças, … compressas, … faça só força quando disser!” mexendo num tom imperativo, de quem tem conhecimento da causa. “Está quase! Ele está a mexer-se, … estou a guiá-lo… mais um deslocar, e ….” Num ímpeto não esperado, salta o piqueno, encharcado, chorando um frágil alívio, por tarefa superada, cheirando o antigo lar que o acolheu… Felicitações á parte, tomo um abraço do piqueno e conduzo-o de novo á caminha…
Está cansado; a noite foi uma agitação; aconchega-se no conforto dos braços e descansa a imaginação e brinca nos sonhos; o sorriso sobressai junto á chupeta.
Parabéns, piqueno….

domingo, 5 de julho de 2009

Cabidela á moda de Chaves.

O convite mantinha-se há já algum tempo: á um barril de Imperial, sensivelmente. Juntamo-nos, a comissão antiga das festas, em casa de um mordomo.
O repasto comprometia uma pinga vinícola; mas havia também o não deixar azedar o barril da Imperial. Estava indeciso; o que fazer?
Como aperitivo uma Imperial, para abrir o apetite. Para a Cabidela, o tinto; a ressalvar uma nota de rodapé: o tinto deve beber-se á temperatura ambiente, e não fresco, que cai que nem calhaus. Sobremesa: pudins, gelatina, tarte de natas e pão de , novamente a Imperial.
Além de refrescar a ialma, refrescamos o coiro na piscina temperada.
Para rematar com uns belos saltos bomba e saltos onda, lanchamos umas belas fêveras assadas, e o resto da Imperial que terminou sem darmos por isso.
Que bela tarde, ... que acabou por me criar uma gripezita, ... a água tem destas coisas!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um amigo, e a sua ajuda...

A soneca tremeu... acordo com o bater manso de algumas folhas, que se precipitam sobre mim; limpei a remela dos olhos... o vento agita o sobreiro, que geme de dor á velhice. As nuvens carregam-se de cinza, ... chuva desata a vergastar tudo e todos. A capa mal me abriga, e os galhos tentam resguardar sem resultado...
Ao longe um casebre, que me surge do nada, assinalado com um pequeno fumar da lareira, ...
Respiro um folgo; embalo-me; corro pela vida de lama, por cima de pedras, problemas e obstáculos, ...
Ouço um silvo, entre os pingos fortes e cheios que me lavam o rosto; paro, viro, concentro-me e ... um caminhante corre na minha direcção: "Abriga-te! ...que a lareira aguarda-nos!"
A porta abre-se guinxando á recepção... ao lado a fogueira que crepita: "Seca a vestimenta; aquece o corpo com esta sopa, e ..." adormeço ...

domingo, 28 de junho de 2009

Molhar por dentro e por fora

No S. João, ocorreu-nos através da sugestão de um amigo que não pode estar presente (infelizmente por compromisso de agenda), por muito pena dele (e eu sei que sim), de irmos a uma party, mais conhecida por “festa do Zero”. O objectivo é esgotar o stock de líquidos existente da casa. Fim de semana agendado...
Depois do café, de dois dedos de conversa com o Sr. Carranca (vulgo Beirão) e com o Sr. Famous Grouse (vulgo whisky), da troca de novidades, e devidamente aprumados, saímos rumo a dita party.
Chegamos; a fila aparentava ser infindável, … afinal era uma ilusão de óptica. Tomamos o nosso lugar por ordem de chegada, era precioso manter a postura, os armários da entrada assim o exigiam; o som surdamente saia pela entrada; as luzes reflectiam psicadelicamente numa e noutra parede do hall; tomamos folgo, recebemos o ticket, e penetramos no ambiente.
A escuridão era cortada por um ou outro feixe colorido, o flash cintilava ritmicamente ao som da batida e do movimento da trupe. A festa, o trance, fervia efusivamente juvenil. Eu disse juvenil? Era mesmo o termo.
Olhamos uns para os outros! Sem falar sabíamos qual a questão: “Enganámo-nos? Era esta a porta? Não haveria uma escadaria lateral, para pessoas mais velhas?” Dizia-me o amigo: “A média de idades por estarmos hoje aqui, é de 20 anos!” É verdade, e atesto: a média deveria estar entre os 17-18 anos; e já contabilizamos os bartender, dj,s, dançarinas, armários e staff em geral. Seis pessoas naquele instante, alteraram a média em 3 pontos. A juventude está cá dentro, costumamos dizer. Comentamos que a grande parte desta malta, e atenção aquilo que vou dizer, … tem metade da nossa idade.
Dirigimo-nos religiosamente a um bar, para iniciar a epopeia a que nos tínhamos designado. “5 Carrancas, e uma agua oxigenada tingida!” (5 beirões + 1 whisky).
Refrescamos em meia dúzia de golos; e saltamos para o dance-floor. Entramos no espírito da house, tecno, trance, …, saltos, movimentos sincronizados, tectonik, cabeças a abanar, … calor dos corpos, humidade relativa superior á dos trópicos, silvar de euforia, … um ambiente brutal.
Ainda trocamos uns dedos de conversa com alguns alunos de medicina, alunos de informática, alunos …, que supunham sermos seus professores de algumas cadeiras académicas. E que respeito tivemos, … “Dr. Semedo para cá, Drª Queiroz para lá, Drª isto, Dr. Aquilo”! No fim de contas, trocamos algumas palavras, algumas alegrias, alguns passes dessa dança solta elástica em voga (tectonik), alguns saltos em grupo,… Ao final, já os bares estavam esgotados, nós já bebidos e encharcados em suor até ao tutano, as poças de líquidos acumulavam-se aqui e ali, resultado da gula e da humidade suada de tantas bebidas, o staff da casa já se misturava com a multidão que não arredava pé, o som ritmava o final da sessão, com sons mais apoteóticos, adivinhando o fechar do espaço.
Já era dia! Cacimbava, … Saímos, … cansados, alegres pela noitada de arromba, … e com fome, como sempre. Isto de saltar tanto, puxa pelo metabolismo celular. “Vamos carregar baterias!”
Como disse, brutal…

sábado, 27 de junho de 2009

Fartura, benza a Deus!

È a época da recolha das colheitas; neste caso as batatas.
A Sarrada, terra airosa e fértil, resguardada por pinheiros á tarde, e exposta ao sol da manhã, conserva um talhão produtivo. Seguindo uma agricultura rotativa, cultiva batatas, milho, feijão, abóbora porqueira, e algumas árvores de fruto, como laranjas, maçãs peros, pêras, … durante o ano.
“Preciso de uma ajuda, na terra da Sarrada! É a apanha da batata!” disseram-me os pais. “Nós vamos pela fresca, que o calor a pico não se aguenta. Depois vens lá ter?”
“Claro que vou lá ter!” afirmei.
À hora combinada, apresentei-me na Sarrada, com o meu irmão. Saco a saco, enche a carrinha a caixa. Tanta e grossa batata, pensei. “Fartura, benza a Deus!” disse a mãe, ouvindo o meu pensamento. Bem que é verdade, que produção; 16 sacos de batatas.
Já repousam no sótão, divididas entre amarela e vermelha. Ai o meu ombro! “É falta de hábito! Eh, eh, eh, eh, …” exclamou o pai.
Boa colheita…

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Colchão da Noiva

Ao passarmos por este dia, lembro-me sempre de um amigo; não só por o nome do santo coincidir com o seu, mas por festejar mais um aniversário de vida. Parabéns!
Alegremente, estivemos presentes numa tertúlia de amizade, reunidos na alegria que nos junta de tempos em tempos, junto á churrasqueira; sardinha assada, fêvera assada, salada fria, “EA” (pub), mines e minuins , gelado, bolo do aniversário, conversas trocadas, sorrisos actualizados, crianças que brincam,… e o que aguardávamos com a maior expectativa, para rematar esta reunião, no final do finalmente, acompanhado a café e “Beirão” (pub): “o travesseiro da noiva”, ou “a almofada da noiva”, ou talvez “o colchão da noiva”.
Aquele bolo, segredo da confeitaria milenar desta família, que nos dá cabo da dieta. Uiiiiii! … não estava presente; que pena. Ficou a promessa suspensa, para o próximo encontro…
Viva o amigo e o S. João! Vivaaaa….

terça-feira, 23 de junho de 2009

Best off: S. João Collection

Tudo se tinha passado á sensivelmente um ano; as festas de S. João, na terra, encaminhavam-se para a última hora. O calor do “não deixar cair a tradição por terra”, acabou por juntar uma dúzia e pouco de gente da terra.
Ao longo do ano, trabalhou-se aos fins-de-semana, na tasca das festas; efectuou-se uma série de eventos, entre almoços, jantares, corridas, porco no espeto, sopas e bailaricos; tudo no intuito de angariar algum soldo para as festividades que se encaminhavam a passos bem largos.
Contratos efectuados: artistas de renome mundial, quiçá da Europa, talvez Portugal, ou local; arcos que ostentam manjericos de bairros populares; fogo de artifício a encurtar; bebidas, petiscos e marinadas; tudo em prol das festas de S. João. Antes de servir qualquer bebida ou petisco, foi necessário passar por um rigoroso teste de provas, de modo a atestar a qualidade dos produtos (mines – excelentes; imperial – no ponto; Beirão – sempre fresco; Caipirinhagostosona; vinho tinto – boa colheita). Resultado do controlo de qualidade: produtos aprovados. É claro que o sacrifício dos testes se ressente no corpo, mas por uma causa nobre, sofremos sempre.
Palcos montados, restaurante no lugar, bares levantados, sombras estiradas, publicidades esticadas, fitas e enfeites engalanados, quermesse enfeitada, luzes e arcos iluminados, e nós já estourados. O nervosismo instala-se. Estará tudo preparado?
“Carpe Diem
Arregaçamos as mangas; vestimos a t-shirt; o cansaço e os músculos doridos, dão lugar a força “de não deixar morrer”, e mostrar o trabalho árduo de 365 dias de preparação.
Do nada se faz força; para servir ás mesas e no bar; para grelhar carne e carregar grades; para lavar louça e levar o andor; para levantar a moral e a louça das mesas; para saltar no moche do som de uma banda e comer uma sandes a correr; …
Acabou a festa, ultimas forças de genica, .... desmontar.
Entregamos a pasta, os bares, o restaurante, os arcos, as bebidas; escovamos o chão; apanhamos o lixo; devolvemos a publicidade; encaixotamos os enfeites; em suma, pusemos abaixo o arraial, que tanto suor nos levou a levantar.
Balanço: para mim cansado, mas satisfeito. Além do objectivo traçado ter sido cumprido na íntegra, mais que tudo, criei grandes amizades.
Para o ano, talvez mais haja , mas não sei quem continuará o tradicional festejo. Para mim já está; pelos outros não sei.
Um bem-haja a todos …, estamos de parabéns.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A vida caminha

A piropos e pegadas tantas, um prado verde assinalado com um velho sobreiro, de hastes largas e frondosas, sombreando luzerna amarelada, com a sua ramada esverdeada; galgo o muro de pedras amontoadas, e descanso á sua sombra. Abro a sacola; estendo o pano, o pão, o queijo, e o vinho. Divido comigo o repasto, … e ao calor do dia, vem a fadiga, … por hora descanso um pouco; a jornada parece-me longa; … adormeço sobre desejos concretizados, e sonhos que nascem…

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Comentários

Ja sacudi o pó amigo... continuo a viagem. Passei a Emaús, e que belo dia,...A merenda vai na sacola: além de dúvidas, palavras, vida, memórias,... levo queijo, vinho e pão.Talvez um piropo venha a ouvir, mas talvez não tão duro como já ouvi... a vida tem disto. Vou a caminho.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A caminho de Emaús...

As 10:39h da manhã, já me pareciam, umas 15:00h; um calor infernal, a pico, que nos pede uma sombra, ou um simples curso de água fresca, para um mergulho.
Aglomeravam-se algumas pessoas junto á tasca, e amotinavam-se as viaturas junto ao muro da capela; era o meu dia de abrir a horas. No entanto, mantinha a seriedade e o respeito de não abrir mais cedo: falecera uma senhora. Falava-se de tudo e nada, á sombra da tasca.
O funeral saindo, conduzia em direcção á sua ultima morada. O largo ia esvaziando as suas gentes; abri a tasca.
Ia ser o ultimo dia de um ano de mordomo, ou festeiro. Era uma esmola para as festas, uma companhia para o pessoal da malha.
"Um Favaios, fresco!", "Um café cheio, pingado!", "Uma água das pedras, que a noite foi dura!" ou "um traçado, fresco!"; iam chovendo os pedidos, á medida do aviar. Ouvia-se o picar da malha, o bater e chiar do ferro, com a alegria do acertar na testa, no prego, ou fazer a cama.
"Não tens mais fresco?" exigia um freguês descontente, matando dois golos de sede. "É do tempo, e das máquinas encaixotadas a este espaço", desculpei-me ironicamente, sabendo dos antecedentes de não ter colocado as máquinas á carga máxima. Pagou!
Primeiro cinco, depois mais três ou quatro, aficionados da Vespa, cheios de calor e sede: "Finalmente! Nem sabe há quanto tempo, eu estava á espera de matar este bicho; sai uma mine bem fresca!", e como bando de ordeiros e em uníssono, viraram as mines, num piscar de olhos. "De onde vêm?" indaguei. "Agora de Fátima! Mas somos de Coimbra... (um espremer da garrafa), alias, de S. Silvestre!"; " Tínhamos que abastecer..." dizia outro rindo. "Mais uma rodada, para a viagem": suplicava outro, puxando a carteira. Beberam, pagou,e seguiram destino.
O peso da malha já não tenia umas nas outras; a sombra era ocupada por mesas, e jogava-se as cartas; embrulhava-se rifas no meio de cusquisses; trocava-se dois dedos de sabedoria com alguns velhos da terra, no meio de um traçado; a tarde fugia...
Os amigos aparecem, com a promessa do jantar. Algo rápido, simples e bom: tomatada de berbigão em abundante cebolada; e camarão picante em cama de azeite e alho. Convite aceite.
Era hora de fechar a tasca. Mas o dia continuava, entardecia para a noite... estava incrivelmente agradável.
Nisto,... um vulto. Cansado, débil e fraco; barba de longos dias, grisalha e branca. Para, e questiona numa mistura de palavras latinizadas: "Queria pedir um favor. Guarida para este humilde servo!" Olhamos, uns para os outros um pouco cépticos. "Posso acampar no pinhal? É que venho de Fátima, e já não tenho forças para mais. Tenho uma tenda. Só quero mesmo repousar."
O sotaque denunciava, alguém de origem espanhola, ou italiana. "O senhor vem de onde?" perguntou a amiga num gesto de curiosidade. "Di Roma!" respondeu-nos. Olhamos uns para os outros, segredando: o homem já não pode mais; deixemo-lo descansar.
"Sou um monge franciscano, em Roma, que todos os anos venho a Fátima de bicicleta; demoro dois meses de viagem para cada sentido; e ajudo 150 banbinos sem condições, esfomeados, e órfãos; venho agradecer..."
"O Senhor tem fome?" perguntamos. " Vou comendo aqui, e ali, ... quero simplesmente descansar." Abriu uma pequena bolsa, e tirou duas medalhinhas, que entregou á filhota, e ao filho de um amigo. Agradecemos...
Fechei o resto que havia para fechar da tasca. Deixamos que o entardecer, o deitasse ao descanso. Saímos...
Voltamos mais tarde, acompanhados de uma sandes fresca, fruta, e iogurte. O passageiro continuava o seu descanso. Deixamos a nossa oferta, e saímos com o silêncio da noite.
Lembrei-me de alguém que passeava pelas estradas de Emaús... que belo dia...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mixtu

Lancei umas palavras a um amigo, que assim me saíram:

"Parece-me que só agora cheguei; e o caminho já era bem longo. Sento-me, leio e sinto, ... que odor a palavras...; respiro um surto de coragem;... pelos vistos o caminho vai continuar longo...; sacudo o pó dos joelhos, e ala que se faz á vida. Prezo que ainda bem amigo, as palavras, florescem por aqui. Cá te acompanho,... merendo mais á frente..."

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Sr.Granja!

Nesta manhã, a telefonia, dava-me conta de algumas efemérides do dia, dignas de serem reconhecidas para a história da humanidade. Mas sem dúvida, que estagnei, e torci de imediato para a direita, o botão do volume, de modo a ouvir com atenção o nome que acabava de ser soletrado: "... Granja." ... continuava a ecoar... "...Granja." De repente, saltei para a dimensão da minha adolescência, e senti o recordar daquela voz rouca, moderada e ponderada, que pausava e pedia licença a cada palavra que enunciava; os óculos cilindricamente enormes, que nos fixavam com a atenção agradecida, de quem nos dá um momento único; e o apresentar da humildade de um "Cinema de Animação", que apresentava curtas metragens do Canada, Checoslovaquia, França, Usa, Portugal, Cccp, Yugoslavia,..., a toupeira, o lápis mágico, a pantera, silvestre, bip-bip, speedy, ...
..."Faleceu aos 83 anos"... dizia efusivamente a radialista. Vasco Granja faleceu. Dele, resta-me a chave para o salto dimensional, do tempo em que havia tardes passadas em frente ao Blaupunkt (pub), transmitindo as imagens a preto e branco, deleitando-me com bonecada...
Obrigado, Sr. Granja!

sábado, 2 de maio de 2009

Felis silvestris catus

Após algumas conversações, de completo e unânime acordo familiar, e a pedido de alguns membros e vontades familiares, sentimos a coragem e bravura de adoptar uma Felis silvestris catus; branca neve esgazeada; mancha mesclada que tinge a orelha direita; rabo preto, como que molhado sem cuidado num tinteiro, até ao meio; olho azul limpo e cativante; bigode e nariz emproado – a Kitty.
“ Pai! È preciso uma cama quentinha, uma caixa para a areia, um maceiro, coleira insecticida, areia, papinha,...” relembrava-me a filhota, lendo alto e em bom tom, a lista A4 que me parecia infindável, rabiscada com marcadores verdes e amarelos seguindo o grau de importância ou simples embelezamento, de apetrechos para a nova inquilina, a caminho de uma superfície comercial.
Compras feitas, vem a instalação: onde colocar esta inquilina, sem atingir pontos sensíveis da família, e do novo ocupante, de modo a vivermos numa harmonia de compreensão?
Caixa de areia, azul com acabamentos do rebordo a laranja, colocada a um canto da cozinha junto á porta de saída, meia cheia com uma areia, perfumada com um odor, sem cheiro; maceiro de duas pias, azul; cama de verga, protegida com tecido vermelho e padrão canídeo, estufado; saco de ração de sabor a pescado, latas de alimentação com patés de coelho, frango e atum, devidamente acomodados e inacessíveis á mão da inquilina e ao filhote, que ainda persiste com a ideia de desarrumações desnecessárias.
Com pompa e circunstância, fomos retirá-la do seu leito materno; colocámos a coleira insecticida, de modo a exterminar e afastar durante algum tempo, nefastas pragas que se venham a desenvolver durante esta época primaveril.
… E agora a tarefa mais árdua: o domesticar da raça; que trabalheira vai ser. Eu imagino o trabalho que os nossos antepassados milenares, os egípcios, tiveram para domesticar tamanhas feras… Ah! Ok! Eles já sabem que a caixa da areia é para as necessidades, o maceiro tem a ração e a água, e um sítio fofo e quentinho é para ronronar. Afinal, é mais simples, do que me parecia.
Bem-vindo gato…

sábado, 25 de abril de 2009

Deglutir amizades.

Na companhia do José Maria da Fonseca, com a sua representação Periquita, deglutimos meia dúzia de conversas, passando uma vista sobre uma amizade que conta com 18 anos de existência.
O evento comemora o aniversário do filhote dos amigos. Mines, bolos, entremeada, patés, vinho, salsicha fresca, parentes, amigos (e não todos com pena, por motivos profissionais uns, e motivos de lazer outros); faltou mesmo foi o travesseiro da noiva, a fronha da noiva, ou a almofada da noiva, uma especialidade gastronómica da família, que representa qualquer coisa do enxoval da noiva (segredo familiar secular pelos vistos).
Embora o cruzamento seja efectuado de tempos em tempos, literalmente, é daquelas amizades que está sempre actual, como se diariamente nos agrupássemos para rir, trocar novidades, brincar com os herdeiros, jantar ou almoçar, picnicar, deglutir um bom vinho, festejar um aniversário, fazer um barbecue, apresentar um ombro, …
Já o nosso círculo de amigos contagia os herdeiros, que alegremente se encontram de tempos em tempos, e como se todos os dias se vissem, brincam, jogam, gritam, riem, choram, numa pandemia de amizade.
Parabéns filhote dos amigos, …

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Celeiro II - Assim chegas lá!

Qual nobre profissão, que é o lenhador, ontem segui com a minha esposa, rumo a um pinhal, daqueles que recentemente sentiram o poder da destruição, através da fúria dum pirómano qualquer; e seguindo o teorema da formiga, da existência e da sobrevivência, lá fomos nós continuar mais uma fase do armazenamento. Motosserra, machada dentada (isto é o que faz por vezes rasgar pedras e pregos), carrinha, vontade, e lá embarcamos. O sol escaldava lá no alto, embora a hora tardia do entardecer; gravelhada mais que muita espalhada pela terra, como restos de velhas ossadas; rebentos de eucalipto que dominavam toda a terra, proliferando a sua conquista; uma carqueja aqui outra ali; pinheiros deitados e carcomidos nas suas carcaças, cobertos por alguns fetos; pinhas abertas pelo calor; e bicas secas, firmes, hirtas (como uma barra de ferro) e chamuscadas, que encenavam um ambiente dantesco, seco e agreste, como se o inferno ali tivesse estado… e passou, com todo o seu poder e submissão. Poucos seres não vacilaram, e conseguiram resistir: entre eles, bichos-de-conta, escondidos sob algumas carrascas húmidas; cigarras que afinavam o canto para a apresentação do Verão; e claro está, as formigas que nos ensinavam a lição de vida: armazenar.
Para meu espanto, cada bica abatida continha todo o cerne necessário, para aquecer uma daquelas noites invernosas de frio e humidade: elas tinham morrido de pé, sem abandonar o seu posto de comando; secaram de pé.
Depois do corte vem a recolha, e então o mais necessário para a ocasião: a força (o que é isso?), e uma mine fresca (esqueci-me delas!). Ai, ui, gemendo, empurrando, força daqui, força dali e …ufa, …, carga composta, ala que se faz tarde; o ripado e as mãos, ressentem a arrogância dos troncos, mas o estômago brada mais alto; vamos mas é para casa recobrar forças, que o desejo da sopa já se faz sentir. Os dois lavados em água, e maquilhados com uma base, ao tom do chamuscado e da estafa, seguimos satisfeitos da jornada, relembrando o videoclip dos Benassi Brothers (Satisfaction).
Já me imagino na poltrona, a ouvir o rezingão Inverno, o bater da chuva, e o silvar do vento, que nos aconchega ao crepitar da lareira: ah! Aaaaaaaah!
“A lenha aquece duas vezes, …” lá diz o povo!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Segredo do adormecer...

O contar carneiros a saltar muros empedrados, ou vedações tortas, em verdes prados; mesmo a técnica de contar histórias e fábulas; ou de olhar para o relógio até cansar a vista, já passaram á história.
De algum tempo para cá, tenho observado o meu pequenote, com a sua técnica fulminante ou estratégia fugaz, no atingir do sono profundo… e o segredo começa, com uma dança tipo tribal, contorção do corpo, um bater de palmas dessincronizado e as seguintes palavras mágicas:
Ah! Cum?
(...)
, néeee!
(… gestos)
Mamã, papá.
(… palmas)
, , côcó.
(…)
Hrrõn, hrrõn.
(…)
Popó? Nhãn, nhãn! Ohhhh!
(… tirar da chupeta e voltar a colocar)
Pê? Tá qiiiii!
(… smugh, smugh, smugh, smugh…)
Ta tá!...
(…bocejo)

O contorcer acaba, o corpo estagna na posição de arranque. O momento pára, o sono está ali á porta; já ouço o João Pestana descendo pelo telhado, e a empurrar as pestanas. O silêncio impera. Chiuuu! Que se vai cantar o sono…
Táctica fora do normal. A filhota adormecia ao som de uma cantilena. O pequenote, numa tentativa de atingir o ponto de ebulição limítrofe da paciência do pai, … de repente, eis senão uma reviravolta; o sono dos justos chega e a apazigua o momento.
Vou mas é dormir também, que estas tentativas de adormecer, gastam a alma e o corpo, sobretudo! (…bocejo…)

domingo, 19 de abril de 2009

Apoiar um amigo parceiro

Faleceu um amigo, vizinho dos meus pais, pessoa bastante influente na aldeia e arredores, mais ou menos da minha idade, factor pesaroso por ser novo. Cada um memoriza e recorda á sua maneira, como era visto o amigo vizinho; eu nada a incriminar, bem pelo contrário: um levantar de mão quando se cruzava no dia-a-dia, um aperto de mão num café, uma farra numas festas de Verão, um saudar de uma mine, ..., bons momentos recordados.
Apesar da idade, o lado amigo, e de ser uma pessoa bastante dada, há esse factor que nós, família, levamos muito em conta: o parceiro da filhota.
Explicamos á filhota as circunstâncias do sucedido, e o apoio que deveria dar ao colega, sem levantar questões incómodas, nem evidenciar boatos de ouvi dizer, diz que disse, …; somente apoiar, estudar e brincar com o parceiro.
Entendeu, e diz aguardar pelo seu regresso á carteira da escola.
Missão cumprida....

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Trocas que o latim dá.

Ontem, a convite do meu sogro, acabei por ir usufruir de um repasto: dourada assada.
Eu sei que ia para o covil do lobo, mas aceitei: o FCP jogava contra a equipa maravilha do mundo, e a cor assemelha-se ao SLB; então estaria em minoria, mas sem problemas.
Bom, mas fundamentalmente, o que me levou a ir, foi a dourada escalada grelhada (a filhota diz ter graça por rimar com três palavras seguidas); numa observação científica mais apurada, ainda tentei ver se era de viveiro, ou do alto mar, como me ensinou a parceira de AHST, mas sinceramente com a fome alarva que estava, nem deu para saber. Adiante!
A garfadas tantas, a campainha tocou; o pequenito, bem mandado, corre em direcção á porta, e com a formalidade atrapalhada do bem receber, abre a porta, palreando um rasgado e divertido “Olá!”: um casal emigrante, amigos vizinhos do meu sogro, que usufruem da amizade e do calor da lareira, nesta noite tempestuosa. A televisão descarrega publicidade para os sofás. Saudações, cumprimentos, larguras, e …
“Vai um café?”, comenta o sogro para o amigo, …”e tenho aqui uma pomada! (se é, porque eu já provei) Vamos ver o resto do jogo!” … eu continuo á mesa, a afogar pão torrado no resto de azeite, que ainda sobra no prato, e a deliciar uma pinga dum agricultor local… “para ver se baixam a gola que têm!”, penetrou-me a afirmação, cortando a hora do deleite e degustação de tão rústicos sabores… Ainda me virei para trás, olhei para o amigo emigrante e segui a trajectória do dedo indicador, que acusava os jogadores. Deixa-me ver: gola... ora bem: gola… olhei, pesquisei, e cheguei á conclusão… este equipamento não tem gola. O amigo emigrante deve estar vesgo. Há casos que a gola da camisa não está direita, ou então está mal passada; mas neste caso concreto não têm gola nenhuma… Olho para a esposa; ela ri e repete á amigo emigrante: “Gola! Mais nada…” Um sentido de arremesso contra o vigor nacional: são portugueses gaita!
… E agora vem o flash! Volto a ir pescar o dicionário de francês português, versão emigrante: Gueule – goela – gola; Ok! Gola – camisa – pescoço – goela = gola. Trocas que o latim, suavemente efectuou com o passar dos séculos, guerras e civilizações, e os nossos emigrantes sabia e negligentemente souberam aproveitar.
Estes emigrantes. Uiiiii!

Aprende que eu não duro para sempre…

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Blogar no Magalhães

Foi com extrema, repito… extrema dificuldade que ontem bloguei, no dito Magalhães da filhota.
Comecei a maratona, por volta das 22 horas, e ultrapassei o cabo Bojador, por volta da 1:30, da madrugada. Que vergonha! Melhor, que o erro nem é meu, em parte; a culpa é de quem faz os teclados para dedos, ou ponta dos dedos minúsculas, e não batatudos, ou estatisticamente normais, como os meus. Foi uma autêntica cruzada: em vez de teclar uma única tecla, esborrachava 6 ou 7 teclas, a cada dedada. Tive que dar trabalho e esforçar os mindinhos; e mesmo com uma pose de aristocracia, a horas tantas, os músculos já se sentiam doridos, e até penso que criei foles...
Quem me manda a mim ser preguiçoso, e aproveitar o que está á mão, para fazer o bonito, á frente da esposa. Acabei por arrastar as pesquisas e actualizações do twitter, que pretendia fazer, all night long, … e consequentemente dormi pouco.
“Toma, … e embrulha!”

terça-feira, 14 de abril de 2009

Abominável Hulk!

Veio a Páscoa, os doces, os folares (a nota no envelope), o cabrito assado, a roupa domingueira a estreiar, o receber os afilhados, o dia de sol envergonhado, a reunião de família, ... enfim, a tradição pascal.
Seguimos o protocolo normal: aguardar pelos afilhados, dar e receber dois dedos de conversa, saborear os doces a entremear os diálogos, um licor que acompanha o gelo dos dias, e o enfartamento do que passamos a curta distância.
Os filhotes rejubilam, com as prendas que vêm para além do Natal e aniversários: o folar (uns €uros num envelope, e não o tradicional bolo, com ovos cozidos, que para mim servia muito bem, com uma pitada de sal e pimenta); uma roupa nova; umas amêndoas com cobertura tipo francês, tipo português, de chocolate, de não sei quê...; e ultimamente uns ovos enormes de chocolate(tamanho avestruz) , de uma marca conceituada, que começa com um "K" e termina num "r", tendo no meio a palavra "inde", que apregoa ter o melhor chocolate (isso é verdade), e um presente que não decepciona. Bem quanto ao presente, é tipo sorteio; nos anos anteriores, tinha sido sorteado com uns peluches e umas bolas (decepção), mas este ano a sorte bafejou três jogos completamente diferentes; manuais de utilização ou regras do jogo hiper mega reduzidos com imagens que ninguém percebe ou que não chega lá ao sentido do jogo e da montagem, e as respectivas peças de montagem; tudo isto numa carapaça plástica. Ajudei a filhota, com a minha paciência de Job, a montar e a perceber os três jogos.
Esfregamos as mãos; brilhos no olhar; mandamos peças ao chão; gritos de alegria; montar o jogo novamente; voltar a desfazer; risadas e galhofas; ...
"Pai!" sussurradamente, "olha o mano!" e diante de mim, em cima duma cadeira apoiando-se na mesa, o pequenote tentava unir as duas carapaças plásticas, com as feições de um esforço tremendo de esmagar capacetes como se fosse o abominável Hulk. Rimos; achou piada fez novamente; ...
No final, antes da caminha, a prova final do dia: o arrumar. Bem que procurei algum tipo de contacto directo, uma linha verde ou azul, de alguém que me pudesse explicar, o como voltar a arrumar tudo dentro de uma, agora, minúscula embalagem plástica amarela. Daí, pensei como se volta a colocar uma gema e clara de ovo, dentro do invólucro calcário, a casca; não se coloca, usa e deita fora. Ok! Talvez á pancada. Dito e feito, com jeitinho, pancada aqui, pancadinha ali, o invólucro selou: "clic!"
Finalmente, posso ir dormir....

terça-feira, 7 de abril de 2009

Até um dia...

Chegado a este dia, as tradicionais despedidas.
Um jantar, a celebrar e relembrar o primeiro dia que nos conhecemos, lá no 2º piso, na sala 12, ao fundo.
“Ora vamos lá começar: eu sou, moro e faço. De seguida a colaboradora vai se identificar e relembrar a minha apresentação; e assim consecutivamente…”, um teste que de facto resulta… Na sessão seguinte todos memorizamos os nomes uns dos outros.
“Vai ser no Benjamin (pub): entradas, um prato de peixe, um prato de carne, líquidos, sobremesa, café, …” e por sufrágio universal, com a ajuda dos pauzinhos elegemos, de entre o variado leque de opções: entradas representadas por rissóis, jaquinzinhos fritos (faltava o arroz de tomate) e linguiça assada; no prato do peixe, o nórdico bacalhau na brasa a nadar em azeite e alho, com migas; bifinho de vitela á casa, aconchegados com molho de natas, batatas e arroz cenoura; líquidos, jarro de tinto da casa (se era bom), verde de pressão, água, chá gelado de manga, Coca-Cola (™), sumo de fruta; sobremesas, doce de amêndoa (caseirinho, hummm, miammm), salada de fruta, pudim, e o tradicional doce da casa (segredo bem guardado pelos grandes mestres culinários); para o remate o acamado café, bica ou simbalino (conforme o local onde se encontre).
Trocamos mais do que dois dedos de conversa, aberta entre as fotos dos familiares, cartão do Cidadão e carta de Condução, desejando um próximo encontro para bem breve… e como diria esse grande poeta literato camionista Gonçalves: “…So long…”

sábado, 4 de abril de 2009

Casei um afilhado...

Salvo seja, não casei, mas fui padrinho e testemunha da união pela Igreja, do afilhado e sua namorada (agora esposa, claro). Nunca tinha tido este tipo de sensação formal: apresentar-me como padrinho de casamento, diante dos pais, parentes e amigos (ai que fazer boa figura). É realmente o nosso papel de padrinho, estar presente como alguém que apoiou, e que é testemunha perante todos, deste acto solene....
O proforma elaborado, desde o convite, o jantar dos padrinhos e finalmente o casamento; todo este tempo de trabalho, sensivelmente um ano, resumido a um dia, que se desvanece...
Dia de levantar cedo: preparar míudos com banho e cheira bem; equipá-los (e que lindos estavam); engraxar sapato e acomodar saltos altos (acho que estavam chatos); raspar a cara; passar uma água pelo corpo; esticar cabelo e maquilhar; conferagem do cabelo com gel; perfumar de cima abaixo; nó da gravata á moda; preparar mala dos filhotes (fraldas, sopa, roupa sobresselente, e tralha); ..., ufa, e ala que se faz tarde, temos o dejuar á espera, nos pais do noivo, para não desfalecer na cerimónia; e a chegada... e eu que aguardava por uma entrada triunfante com o acompanhamento do Trio Odemira, com o seu belo tema " A Igreja estava toda iluminada, ....", mas o coro também esteve bem, e serviu. Celebração, e leitura de uma carta de S.Paulo no ambão; troca de promessas e alianças; e seguiu-se as assinaturas normais das testemunhas (os padrinhos é claro), com foto e pose (para mais tarde recordar); saída da igreja, com chuva de arroz; e rápida entrada na Limousine, que o tempo é curto duma ponta.
Boda, na quinta (ainda sou do tempo dos casamentos serem nos barracões, onde se guardava as pastagens do gado por um ano). Croquetes, pistácios, hors-d´oeuvre, lentrisca, amendoim, canapés, pastel bacalhau, melão e presunto, crepe camarão, morcela, mini-pizza, tâmaras e bacon, ... (talvez seja melhor parar), para entrada de repasto; a regar, caipirinha, vinho tinto branco e verde, Martini bianco e tinto, imperial, Ricard, beirão, sumo de laranja, água, granizado de banana, ... e chega para uma calamidade alcoólica. O culminar desta recepção gastronómica, ou a cereja no topo da nata do bolo, um pastel de nata (quentinho), que quase só vai empurrado. Pronto! Satisfeito!... vamos cumprir o horário da sesta, e voltamos á noite... ainda não? Agora almoço? E isto, foi o quê? Meu Deus! É melhor alargar um pouco o cinto. Talvez o almoço seja um pouco light, tipo uma canjinha , uma folhita de alface e um gomo de maçã.
Reserva na mesa presidencial, ou melhor dos nubentes. Ora, aí vem a canja, para lavar o estômago: "Sopa de peixe ou sopa de legumes", diz-me o garçon educadamente; onde estão as câmaras! é para os apanhados, certo? pensei eu olhando desenfreadamente para os lados... Não estou propriamente com o espírito da gula (ainda por cima na Quaresma), mas ok!, " Sopa de peixe!" Não é canja, mas é sopa de peixe, levezinha... e perdoem-me, mas saborosa. "Pai! O que é buffet´e?" questiona-me a filhota, empolgando uma pequena lista. Bufete! Meu Deus! Ainda temos que comer isto tudo... uiiii! Deixa-me espreitar o que aí vem: ora sopa de peixe ou de legumes (já ultrapassada); Bacalhau á casa, com recheio de camarão; sorbet de limão; lombo de Vitela estufado com molho de amêndoas; fruta laminada; profiteroles (o meu calcanhar de Aquiles) com molho de chocolate quente; café e digestivo; ai que prova de fogo para superar. Depois como ainda há um espacito, o tão afamado bufete, ou tradicionalmente conhecido por simples copo-de-água (que não tem nada a ver).
Após este mega repasto, do qual dei preferência ao prato de Bacalhau (opinião unânime com a esposa), e aos profiteroles (em consonância com a filhota), fomos digerindo até a casa, para retirar o aspecto formal, e enveredar por um aspecto mais desportivo tipo jeans, ténis e sweat, que o serão predispunha-se a longo e dançarino.
A noite chegou, e com ela a hora do copo-de-água. Umas mesas abastadas de frutos do mar (que de frutos nem parecença sequer); fromage de regiões nacionais demarcadas (para empolgar); variados pratos tradicionais, saladas frias, pratos quentes e leitão assado; agora sim, mesa de frutos variados; e já que os olhos comem e bem, a mesa dos doces, desde conventual, até aos instantâneos, internacionais e caseiros.
Ainda deu para um pézinho de dança, com a famosa banda Thema1, regado com digestivo e café, e a praxe das filhoses (o ultimo filho a casar rende esta goluseima).
Cansados e a horas tantas, e com a desculpa dos filhos estarem cheios de sono (ou não), recolhemos a família para casa, para uma noite dos justos.
Crónica de um fim de semana, capitalizado para mais uns quilitos no orçamento.


P.S. (post scriptum) - Parabéns e felicidades aos noivos.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Objectivo: Celeiro...

Ontem abri a época, da recolha da lenha!
Junto a casa, um cantinho por ali esquecido, e umas bicas de pinheiro ali estiradas a clamarem: levem-me, levem-me! E a pedido de várias famílias, entre elas a minha e a do Pynus, peguei em mim, na esposa, no carro, no podão e no moto-serra, e lá fomos; com a devida autorização do dono, que quer é o pinhal limpo, nem que seja num processo de combustão fria (de compostagem). Cortar, debicar, amontoar e finalmente carregar. Bem que custou, sentir a carrasca e as silvas a sarrafar os ante-braços, "ainda por cima perto do casamento que se aproxima; é mesmo para irmos com o cromado todo riscado", disse-me a esposa sabiamente. Pior mesmo era acarretar os trancos até á carrinha, ... ufa!... que eu já não tenho 18 anos. Mas enfim, ficou o fundo do celeiro parcialmente cheio; a resina na roupa; riscadelas nos braços; o dorido no corpo; e um rápido adormecer.
"Ontem fomos á lenha!" disse gloriosamente, e com algumas dobradiças doridas (uiii), á filhota.
"Ahhh! Pois! Quem não trabuca, não manduca!" disse-me ostentando os seus sábios 9 anos.
Para a próxima, para não ouvir clichés populares ou similares desnecessários, é calar-me muito bem caladinho...
Próxima etapa: em busca de uma carga de lenha perdida.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Notas de contentamento...

"Temos uma princesa em casa!", subscreveu-me a esposa para o telemóvel em sms, ainda na reunião de notas. "Alors?", respondi do mesmo modo.
"Subiu as notas..." disse-me ela em andamento "... de bom para Muito Bom!" Como pai sinto orgulho. A mãe, pressinto que quer dar um berro de alegria, mas a vizinhança, pode dar por ela, e tirar uma ideia errada da situação. Por isso é melhor conter, e dar um miminho logo á noite.
Apesar do segundo período ser o que é, um dos mais difíceis, estou como poderei sugerir, estupefacto...
Parabéns filhota... rebenta com a escala que eu deixo. Um beijito e miminho. logo á noite, pelas boas notas e pela boa evolução prestada.

Atum germânico

A caminho de mais uma formação, a quilómetros tantos, quando a via abre para duas faixas, a manobra de uma viatura que segue os parâmetros normais de uma boa conduta em estrada: pisca á esquerda e aproximação ao eixo de via. O problema é mesmo o resto, a viatura isto é, uma carcaça andante, que se esforça por assegurar a sua posição, que se arrasta e nos arrasta por alguns quilómetros, ... talvez não, ... uma centena de metros numa procissão até ao seu calvário.
Pena não ter trazido a minha compactadora e incineradora portátil; é que a lata já apresenta um estado de deterioração , que é de bradar aos céus; já não sei o que será tinta e o que será oxidação; mais arames do que aplicações; e o trabalho de bate-chapas, era melhor nem comentar, porque o orçamento podia ficar dispendioso.
Mas o que anda isto aqui a fazer! Já tinha idade para ter sido reciclado pelo menos duas vezes. Santo Deus! Sempre ouvi dizer que os germânicos, eram afamados pelos motores robustos, que andavam sem óleo se necessário (isto diz o Ti Caramba), mas isto é a calamidade.
Tanta lata de atum que ela renderia, após a sua reciclagem, e anda aqui aos caídos, a estorvar; e assim nem eu como atum de uma lata originária possivelmente de uma viatura germânica reciclada, nem ele nos deixa ultrapassar para chegar a horas...
Não há pachorra.

terça-feira, 31 de março de 2009

Teorema da formiguinha...

Após um dia em cheio, de grandes aventuras e brincadeiras, ao final do dia, aí que passar uma água pelo corpo, para retirar eventuais sujadelas, suores e maus cheiros.
Num destes dias, á 3 ou 4 talvez, no momento do banho de banheira, com menos de um palmo de água tépida, enquanto esfregava os dois filhotes com gel de banho, e eles se divertiam mergulhando e inundando a casa de banho com salpicos de água, eis que, em fila indiana silenciosa, uns guerreiros se moviam em pesquisa de terreno: formigas!
"Que praga!", vociferei..., e de telefone do chuveiro em punho, preparava-me para disparar, quando senão, ... "PAI! Espera..." disse-me a filhota, "é o quê?"
"Umas formigas chatas, que andam a dar uma volta pela casa, á procura de comida. Eu já lhe digo..." e com a mão preparada para dar uma volta á torneira, e criar uma autêntica tempestade tropical, seguida de dilúvio na certa, para aqueles pequenos seres, ... "e porquê que elas fazem isto?" sou interrompido no meu acto malévolo. Realmente boa altura para falar de logística, fábulas, moral, ... Pondero realmente continuar com o extermínio, mas vamos aproveitar, e passar à moral do dia.
"Bem! Por onde começar... já certamente ouviste aquela história da formiga e da cigarra?"
"Mais ou menos..." tarefa dificultada, mas não há problema, posso saltar a parte da criação do Mundo, passar por Esopo, e chegar a La Fontaine...
"Bla, bla, bla, bla e bla bla bla...", com pormenores e tudo, ... e a moral.
"E as formigas, procuram agora comer para o Inverno?" perguntou "Exacto,... por isso é que saem estas, 3 ou 4 formigas que vão á procura de comida para o resto do grupo" clamava eu, enquanto apontava para as ... que é delas? ... já se enfiaram nalgum buraquito certamente.
"Papaaa! Côcô!" grita o filhote, empolgando as suas mãozitas com restos de ... eh eh eh eh ! ... formigas. Alguém tratou do extermínio por mim. As minhas desculpas por ter cortado este elo de ligação da biodiversidade. É o que faz as distracções, e de contar fábulas á hora do banho...
Moral a levar em linha de conta: contar fábulas á hora do dormir, é mais eficaz, como soporífero...

sábado, 28 de março de 2009

Olha! Tá na hora!

20:25h; Jantar já está no bucho... Acomodo o sofá ao meu corpo... Zapping rápido pelos canais...
Olha! A nossa selecção vai entrar em campo; esqueci-me de desfraldar a bandeira Nacional, aos quatros ventos, como nos tempos da outra senhora, ou neste caso concreto, do tempo do outro senhor treinador.
Pelo meio, dos comentários e relatos, umas brincadeiras com os miúdos, uns pijamas vestidos, umas surfadas pela net, ... e pimba, o cliché que se vinha a arrastar a longas semanas por mails e mass média: a hora do planeta.
Então e estes gajos da bola, não foram capazes de adiar o jogo? Só aqueles holofotes, daquele maravilhoso estádio (do Dragon), mamam mas mamam a sério; e o canal da Tv que transmite: um pior que o outro; estes gajos falam, falam, falam e não fazem nada; éhhhh! (in Gato Fedorento).
"Pai! Não era hoje que devíamos de desligar a luz?", curta, sintética e esclarecedora, proferiu a filhota. Para a próxima pensas muito bem caladinho, e dás tu o exemplo.

34 garrafões de água

Fui á fonte, acompanhado desse nobre filósofo, e do meu herdeiro (nem que seja da ramona, mas é herdeiro). Carregamos 34 garrafões vazios, e lá fomos, rezando para que ninguém estivesse àquela hora, a abastecer (aquilo nem eram horas nem nada, eram 11 e uns trocos). Chegamos; tirámos os 34 garrafões vazios, e atestamos (em exclusivo para nós, pelo menos àquela hora), em duas bicas cheinhas até ao batoquinho, desimpedidas só para nós. Foi um ver se te avias; "Assim fosse no Verão" me disse continuando a enxaguar garrafões e a atestar freneticamente, tentando aproveitar sem desperdiçar todas as gotinhas desse milagroso líquido da Natureza. "Os testes da água quando foram feitos?", perguntou. Estiquei-me até ao panfleto da análise; olhei, li, pesquisei, aquele sem número de normas e decretos; e no final o que nos interessava "Foi em Janeiro de 2009." respondi. "Então não está azeda! (risota)", repostou. Tem razão! Está no ponto...
Carregamos os 34 garrafões cheios, e voltamos, em busca do almoço para um nobre repasto. Pelo caminho de regresso, o tema da moda: a crise. Pá ta ti, pá ta ta, ... e eis senão que "aquele que lá está, já fez alguma coisa!", declarou. Quem?, pensei eu. Será que é o prior, o presidente da junta, ... não estou a associar; certamente alguém conhecido. "Logo que soube, mexeu os cordéis e soube onde estava o dinheiro!" Sinceramente, algum negócio certamente da terra, ou algum caso de desvios de fundos,... bem, a verdade é que já sou um imigrante, por isso as novidades da terra já me passam bem ao lado. De modo a não parecer tão ignorante, ou melhor, que não tenha saído deste planeta há 10 anos, e voltado só agora mesmo, a tempo de ir á fonte, desbloqueei a conversa: "Então?", que estúpido! Há frases mais ricas e suculentas do que este então, valha-me Deus. Adiante! "O americano, prometeu e já mexeu; logo que soube da falência daquele banco, ou lá o que raio é aquilo, foi ver onde estava o dinheiro do estado, e conseguiu recuperá-lo!"
Ok! Alô terra! aqui torre de comandos deste inculto, que esteve no planeta Júpiter! Onde tenho andado, ó senhoras de Matosinhos!
"Não é como nós por aqui; um banco vai á falência e zás, lá entra o nosso! Ele, no entanto, está a passar por cima da crise; mas devagarinho..." professa. "... e ainda que o tempo ajudasse, para não nos estragar as novidades (produtos agrícolas, que são novidades numa determinada época): as batatas do cedo, a formiga tá a pegar-lhe; as verduras, estão zarolhas,..." Cheguei lá! A economia americana versus quintal do Vale do meio. Agora percebi! Um consegue levantar da crise, e o outro caminha para lá.
Yes we can! Talvez este seja o abracadabra da crise e assim pegue...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Pó do pinheiro...

"Por isso é que o próximo carro que eu comprar, não há-de ser escuro, mas sim claro!" dizia lavando e esfregando com a irritabilidade, em como os pinheiros deviam era de ter mais cuidado quando espalham pólen.
"Quem pode pode", pensei eu! Mas o pó, tanto está num escuro como num claro! O problema, pode eventualmente ser o de lavar mais vezes numa situação do que noutra.
E eu que já via o lado lucrativo da coisa: recolher o pozinho todo, embalá-lo, sujar carros a torto e a direito, e abrir uma estação de serviço de auto-lavagem. Mas, e há sempre um mas, e as alergias. O snifar do pó do pinheiro, e a comichão logo a seguir? Só de pensar na irritação e coceira, cruzes canhoto, deixa-me estar como estou: quieto. Deixa lá o vento e a natureza fazer o seu trabalho de polinização, e á revelia, sujar tudo e todos com o seu amarelo enxofre.
Deixa cair... que as pinhas também são precisas

segunda-feira, 23 de março de 2009

Vale do vale

Um fim de semana que vale...
Com grado, e com bom tempo, recebemos um convite irrecusável que não renunciamos, especialmente vindo de quem veio: passar um fim de semana no Vale; mais propriamente na Aldeia do Vale. Ah pois é! Mesmo ali, num vale entre Pombal e a Sicó, um impressionante Vale que envelheceu só.
Fomos para uma habitação recuperada e reutilizada, para o efeito de turismo rural. Estrategicamente assoalhada por um branco cal, delimitada por pequenos montículos de pedras calcárias encaixadas, servida sobre um enorme prado verde com espontâneas flores brancas e velhos carvalhos, refrescada e enriquecida com uma piscina azulada; eis o refúgio perfeito para estar connosco, com a família e com os amigos.
Totalmente isolados, mas literalmente falando, desfrutamos de umas risadas, brincadeiras, e como sempre da gastronomia de cada um: Carne de porco á alentejana á nossa moda, grelhada mista com alheiras únicas e salada de laranjas, pasta á Bolonhesa, arrufada, baba de camelo, requeijão com doce de abóbora, regados com Caipirinhas, Lambrusco Rosé, mini´s (para cima de muitas) e o famoso Licor do amigo Carranca (o Beirão™).
Cada um se predispôs a fazer o que mais lhe apetecia, como descansar, lagartar, sonecar e dormir. E á noite a confraternização com a lareira.
Presumo que quem venha ao Vale, deixa de ficar ligado ao mundo; eventualmente numa ou outra esquina da casa, mas muito fraquinho, apanha-se sinal ou rede; mas o mais comum mesmo é não ter, o que por um lado nos deixa atónitos e a pensarmos se o isolamento realmente existe em algumas partes deste globo, quiçá deste Portugal....
Amigos muito bom mesmo...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Só falta a Imperial para testar...

De onde vêm os copos!
É verdade. Estive numa unidade fabril, onde se produz copos. Pensavam que vinham de Paris através da cegonha, ou apareciam como os cogumelos; nada disso.
Á entrada, reunimo-nos com a técnica da empresa, responsável pela HST (Higiene e Segurança no Trabalho), que nos explicou os respectivos procedimentos a levar em linha de conta, assim que entrássemos nesta empresa do ramo da cristalaria: Epi´s (equipamento protecção individual), sinalética, respeito pela marcação pedonal, ...
Colocamos uns tampões nos ouvidos, ... e que silêncio, ... ; via a técnica a gesticular fervorosa e respeitadamente, algumas palavras, para tentarmos perceber a concepção do vidro, desde a matéria-prima, passando pela moldagem, escolha e armazenamento.
Entramos; e apesar do silêncio imperar na minha cabeça, recebi o quente bafo dos fornos eternos que não param de derreter areia de Rio Maior, carbonatos, e mais alguns componentes da tabela periódica (pelos vistos só param de dez em dez anos, ao que percebi, para trocar algumas peças de desgaste). O infernal barulho de cozedura mecanizada, sentia-se no corpo, e por momentos senti-me nesse grande épico de Tolkien, ao passar pelas grutas de Moria, e fugindo de um demónio antigo enraivecido. Depois de admirar a oponência desse grande e extenuante queimador, passamos á secção da moldagem: gotas de vidro líquido, passando de trilho para trilho, pingando de molde em molde, comprimidas pela dor da força do aço, até á leveza cristalina de um copo.
Fugimos da produção, que o tempo urge! Um retoque pela questão ambiental e logística no armazenamento de óleos; e zás!... um empurrão até á escolha! Pessoas em turnos, escolhendo cálice a cálice, copo a copo, caneca a caneca, tentando encontrar um defeito para negar uma peça ao mercado.
E finalmente, o armazenamento: paletes, ... resmas de paletes, sobrepostas, empilhadas, embrulhadas para a sua viagem final: o mercado.
Terminada a visita, que muito agradeço pela oportunidade única, a minha conclusão:
"... e a máquina de Imperial, para testar a caneca acabadinha de sair? E se a caneca não veda, como é?" Falha grave no sistema de escolha: máquina de Imperial (imperetrivelmente), e vários provedores oficiais (eu disponibilizo alguns dias para essa nobre missão), e já agora um camarãozito fresquinho.... pode ser?

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dia de Pai

A páginas tantas de uma semana de trabalhos curriculares intensos, para um dia que se avizinhava neste calendário de Março primordial, recebi com imensa alegria um recorte de cartolina castanho, salpicado de imensas cores (tipo aspergido), com a configuração de um automóvel, recheado no seu interior com esta pequena mensagem escrita, que me paralizou por breves instantes e me fez perceber o porquê da preocupação da minha filhota em não entregar a tempo a dita mensagem:
"Querido pai gosto de ti como nunca ninguém gostou.
Espero que este dia do pai te poça lembrar alguma coisa, principalmente lembra-te de mim! Pois eu lembrar-me-ei de ti e da nossa família.Um abraço da tua filha
"
Fiquei sem ... nada.
Obrigado filhota!
O pequenito também me deu das suas palavras, tão importantes quanto as da irmã:
"Papa, cumm,... " (ou seja papa sou eu) e uma beijoca com mais cinco.
Obrigado filhotes.... mas neste dia a melhor prenda são vocês!

terça-feira, 17 de março de 2009

Nove anos: uma vida...

"Ainda me recordo", costuma dizer o meu pai esse grande filósofo popular, a altura exacta, e o enturpecido que fiquei no momento.
Ela calma, sabedora do próximo passo; eu a pensar se deveria ligar para o corpo de intervenção que estava no Kosovo, os bombeiros municipais, o Papa, ou ao nosso primeiro,... ou melhor, em última instância, talvez pegar no Rover 418 GTD intercooler, e fazer-me á estrada como bom escuteiro, ciente de que sabe tudo na ponta da língua, menos na hora de aflição, e desbravar terreno até chegar ao Hospital mais perto. Uma e pouca da manhã; um homem, uma mulher grávida, um puro britânico de 1800 cm3 e uma estrada quase vazia: o preocupado, a calmaria, o cavalo afoito e o cenário perfeito.
" Ela vai ficar, para atingir o máximo da dilatação." comunicou-me a enfermeira obstreta, após a ter perdido por um emaranhado de corredores que se escondiam por trás de portas vai e vem. "Mas..." indaguei, "ela pode precisar de alguma coisa, chamar por mim, ...?" interrompido momentaneamente; "Tudo o que ela precisa, está aqui. Já vai no bom caminho! Rebentaram as águas...,! É só mesmo aguardar. Mas o senhor aqui, nada pode fazer. Vá mas é para casa, que depois nós ligamos quando chegar a hora." - soletrado com um olhar, de "desampara-me a loja rapaz", mas com um tom de não ferir susceptibilidades.
Lá fiz o meu retorno a casa, convencido que nunca e alguma vez me iriam ligar peva, mas lá fui contrariado. Um homem, um carro, uma estrada e a noite calma: o não sei como, o cavalo domado, o deserto e uma noite certa de preocupações.
No entanto, ou pelo cansaço, ou por considerar que ela estaria rodeada de todos os cuidados mínimos, fui tomado pelo ataque do sono......
Sete e quinze! Ninguém diz nada! Compasso de espera, até as 11 horas, quando por auto-recriação (gosto do termo) arranco em direcção ao Hospital, decidido a manter-me no meu posto de vigília até novas ordens; quando senão as novas tecnologias entram em acção: "Sobe por o labirinto, corta à esquerda, depois em frente, um elevador á direita, uma entrada Y, ao lado da saída X, e uma porta verde ao fundo; entras e é a terceira á direita".
Aí vou eu na minha cruzada pelas encruzilhadas!
Chego á sala e... fios, soro, ... gemidos, correrias, choros, ... mas, calma. São sons que vêm do corredor. Soro é normal! E fios é para controlar ritmo cardíaco da bébé e da mãe. Ufa!
" O senhor vista esta bata e estes sapatos (sapatos ou sacos de plástico?), assina esta declaração (quase por imposição, que respeito) e deixe-nos trabalhar!" ( Onde já ouvi isto? Ah! O nosso célebre professor Cavaco! Adiante!) Até ás 15:45h, foi o suplício. Foi o delírio da calma mãe; foi a confusão da facilidade de mexer num corpo como quem procura um coelho numa cartola; foi o trocar de palavras de ordem entre hierarquias; foi o momento que não passava diante de mim; foi a troca de olhares entre nós a amparar-nos um no outro e a telepáticamente dizer-mos "calma está tudo bem!", que passou e se esvaneceu ao ouvir as palavras mágicas que tanto aguardávamos: "Esta menina para a minha sala" disse num tom segura de si mesma a doutora obstectra; "... e o senhor é para assistir?"...
"Sim!" disse eu sem desvanecer ao desconhecido. "Digo-lhe já! Se o senhor cair para o lado, a opção é por defeito, sempre a mãe e o bébé primeiro!" engoli secamente o resto da saliva que me restava e o olhar frio da especialista.
O que me espera,... o desconhecido!
A mãe e o bébé, eu, a obstectra, duas enfermeiras séniores, o pediatra, e três enfermeiros maçaricos (novos na profissão, ou em estágio), todos reunidos numa pequena sala.
"É agora! Quando lhe disser para fazer força, pressione o seu braço contra a barriga da mãe; e não tenha medo da força que vai fazer. Faça é força!" Ok mulher! Já entendi! É força para baixo. Aí vamos nós. Ai! ai!
Estes dez minutos pareciam uma autêntica eternidade! (...) E a alturas tantas, e depois de muita força (ufa!), tudo pára porquê? " Não estou a conseguir! Ela está a fazer força com o ombro, contra o cordão e a parede do útero" sussurrava a obstectra para uma enfermeira. "Prepare uma ventosa!" - "Acha?" - "Prepare á mesma, ... mas vou tentar com os ferros!" Com quem minha senhora? Com os ferros! E o que é isso de ferros (1), pensei eu. (...espanto...)) Estou no tempo da Inquisição! Que raio de instrumento de tortura é esse. Ela não sabe de nada. É inocente... quer ser mãe. Um ferro de um lado encaixado, outro de seguida; " ... e agora nada de força, que eu faço o resto, .... mas preciso de ajuda!" virou-se ordenando, quase fuzilando uma enfermeira.
... o tempo parou mesmo! A cabeça da bébé, cuidadosamente agarrado entre duas porções metálicas dos ferros.
... e finalmente o grito da libertação!
"Ó pai! Já para a rua! Você tá branco, ainda me desmaia aqui, e eu tenho mais que fazer!" Eu tou branco! Realmente, as pernas tão um tudo nada trópegas, e o espaço tempo ficou alterado num vértice ou vortex qualquer, ... é melhor ausentar-me por momentos, e ir ali para os bastidores.
"Sente-se no chão, cabeça entre os joelhos 1 minuto, e se tiver melhor volte, que elas estão á sua espera." disse-me nem sei bem quem...
Os olhos encheram-se num dilúvio de alegria sem controlo (chora para aí!) Finalmente! ....
Ergui-me! ... tinha uma missão por cumprir. Tinha que vê-las! Abri a porta e as mesmas pessoas, num rodopio, que se cruzavam com linhas, risos, agulhas, choro (de uma enfermeira estagiária, por nos ver felizes do esforço e das lágrimas), roupas, ordens, o nosso abraço, e finalmente "Vai vê-la, que é linda"...E eu confirmo... é mesmo! Parabéns!
"Hora do nascimento 15:58h, ou melhor 16:00h!"


(1) Ferros - Gíria médica para designar forceps, ou mais literalmente, uma tenaz enorme para puxar o feto de dentro da mãe.